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  1. WIIL & WILL, DE JOHN GREEN E DAVID LEVITHAN.

    sexta-feira, 27 de dezembro de 2013


    TÍTULO: Will & Will (Will Grayson, will grayson)
    AUTOR: John Green, David Levithan.
    ANO: 2013
    EDITORA: Galera Record
    EDIÇÃO: 


















    SINOPSE: Você provavelmente já deve ter digitado o seu nome completo Google ou no Facebook,  só pra descobrir quantas pessoas têm exatamente o mesmo nome que o seu, certo? Mas e se, por alguma incrível coincidência do destino, você topasse com uma dessas pessoas? É [mais ou menos] isso que o inusitado livro de co-autoria de John Green e David Levithan tem a nos contar.

    Will Grayson é um adolescente comum de Chicago, que mora com os pais e frequenta o ensino médio. Em sua vida, ele se esforça para seguir duas regras muito simples: 1. Não se importar muito com nada. 2. Calar a boca. E ele acredita que todas as coisas ruins que já lhe aconteceram derivam do não cumprimento de uma dessas regras. Seu único (e melhor) melhor amigo é Tiny Cooper que, segundo Will, é "a maior pessoa do mundo que é muito, muito gay, e também a pessoa mais gay do mundo que é muito, muito grande". Não que Will não interaja com outros garotos de sua escola. Na verdade, ele faz parte da AGH (Aliança Gay-Hetero), um grupo de atividades extracurriculares criado pelo próprio Tiny Cooper, e do qual Will só participa por pedido do amigo. Outros membros do grupo são Gary, Nick e Jane, que também se tornam colegas de Will.

    Nosso outro will grayson (sim, com letras minúsculas) é uma figura completamente indiferente ao mundo ao seu redor, imerso em suas doses diárias de antidepressivos. Sua única motivação pessoal é seu relacionamento virtual com um outro garoto, Isaac, que mora em Ohio - razão pela qual os dois nunca se viram senão por fotos. Quando ambos decidem que finalmente é hora de se conhecerem de verdade, will embarca em um trem para Chicago, onde o destino lhe reserva uma grande surpresa.

    will grayson encontra... Will Grayson e, a partir desse encontro, suas vidas se entrelaçam de tal forma que jamais serão como antes.





    Você com certeza já deve ter ouvido falar de John Green. Famoso por seus romances no estilo young adult (jovem adulto), ele é autor de best-sellers como  por "A Culpa e das Estrelas""Quem é você, Alasca?" ou ainda o recente "Cidades de Papel" - todos líderes de venda aqui no Brasil. Suas narrativas são famosas por apresentarem, em geral, adolescentes lidando com os conflitos mais comuns da vida, como o amor e as desilusões, mas também com fatores irrefreáveis como o câncer e até mesmo a morte. Ele também é famoso por seus vídeos em parceria com o irmão, um projeto que eles batizaram de "Nerd Fighters".

    Já o norte-americano David Levithan é um escritor premiado, que trabalha também como editor de livros infantis. Publicou seu primeiro livro, "Boy meets Boy" em 2003 e, desde então, vem provocando protestos dos conservadores de direita, com seus romances juvenis que lidam com temas como a homossexualidade. Ele também é fundador da editora PUSH, cujas publicações são destinadas aos jovens adultos.

    Green e Levithan tiveram uma ideia genial nesse trabalho co-produzido, onde cada capítulo apresenta o ponto de vista de um dos protagonistas. No caso de will grayson, a narrativa se dá toda em letras minúsculas, mesmo no início das frases. Foi uma estratégia interessante para destacar a diferença entre os dois protagonistas, que têm o mesmo nome.

    Embora o livro trate da temática "adolescentes no ensino médio descobrindo suas primeiras paixões (no caso de Tiny, suas incontáveis primeiras paixões), lidando com seus conflitos pessoais e descobrindo uma forma de crescer com eles", a narrativa não perde nem um pouco de sua maturidade, sua postura reflexiva para as questões que continuamos a enfrentar mesmo na fase adulta. Um exemplo disso está em uma das reflexões pessoais de will:
    "no entanto, não posso deixar de pensar que "trocar" de vida" é algo em que somente um completo idiota pode acreditar. como se você pudesse pegar o carro, ir até uma loja e comprar uma vida nova. vê-la em sua caixa brilhante, olhar pela tampa de plástico, vislumbrar a si mesmo em uma nova vida e dizer: "uau, pareço muito mais feliz - acho que esta é a vida de que preciso!", levá-la até o caixa, pagar no cartão de crédito. se trocar de vida fosse fácil assim, seríamos uma raça em êxtase. mas não somos, então mãe, sua vida não está lá fora à sua espera, portanto, não pense que tudo que você precisa fazer é encontrá-la e trocar pela atual. não, sua vida é essa mesma, e, sim, ela é uma merda. a vida costuma ser assim. portanto, se quer que as coisas mudem, não precisa trocar de vida, você precisa tirar a bunda da cadeira."
            
    Achei engraçado como minhas expectativas mudaram a respeito da narrativa. A primeira vista, torci o nariz para a história - em geral, não sou muito fã de livros que levam o título de "best-seller do New York Times" na capa. E me desagradou ainda mais quando vi que se tratava de um livro com a temática adolescente - como se a gente já não tivesse tentativas suficientes de "O Apanhador no Campo de Centeio" por aí. Mas ainda assim, resolvi dar uma chance ao livro, e descobrir se a narrativa de J. Green é realmente tão cativante quanto todos dizem. E não me arrependi. De fato, acabei me afeiçoando aos dois protagonistas, assim como aos demais personagens que convivem com eles ao longo da história.
               
     De uma forma geral, gostei bastante do livro. A leitura fluiu com facilidade e, sem perceber, devorei-o em uma madrugada. "Will & Will" recebe, então, TRÊS CANECAS, o que o classifica como “Bom”.

             

    Então é isso, pessoal. Espero que tenham gostado da resenha. Fiquem à vontade para compartilhar as opiniões de vocês sobre o livro, ou mesmo sobre outras obras do John Green e do David Levithan. Podem, inclusive, recomendar outros livros dos autores para as próximas resenhas.

    Grande abraço e FELIZ ANO NOVO! :)


  2. Novidades no Descafeinado.

    terça-feira, 26 de novembro de 2013

    Olá leitores! :)

    Depois de um breve período em recesso, o blog "Descafeinado, por favor" está de volta e a todo vapor! A novidade é que o canal literário finalmente foi inaugurado, e vocês já podem conferir nosso primeiro vídeo:


    Não se esqueçam de favoritar o vídeo e se inscrever no canal, para ficar por dentro das resenhas, tags literárias e interatividades do nosso "Descafeinado".

    E fiquem atentos, logo mais tem resenha nova no blog.

    Abraços e boas leituras! ;)


  3. TÍTULO: O Meu Pé de Laranja Lima
    AUTOR: José Mauro de Vasconcelos
    ANO: 1968
    EDITORA: Melhoramentos
    EDIÇÃO: 


    SINOPSE: Zezé é um garoto de cinco anos, cheio de imaginação. Ele é famoso no bairro onde mora por conta de todas as travessuras que apronta. Sobe em todas as árvores, brinca com morcegos e é capaz de visualizar um jardim zoológico inteiro no fundo de um simples quintal. Mas Zezé também é motivo de muita dor de cabeça, principalmente para seus pais, irmãos e vizinhos. Ele apronta de tudo: desde entrar sorrateiramente no quintal da vizinha para roubar goiabas até fazer cobras assustadoras com um pé de meia velha.

    Contudo, a situação financeira na família de Zezé não vai nada bem. Com o pai desempregado por conta da idade já avançada e os vários meses de aluguel atrasado, a família é obrigada a se mudar. Mas a nova casa reserva ao pequeno Zezé uma incrível surpresa. Ele descobre, no fundo do quintal, um pequeno pé de laranja lima, que acaba se tornando seu amigo, confidente e companheiro de aventuras.




    O primeiro romance de José Mauro de Vasconcelos foi "Banana Brava", de 1942, onde abordou o mundo dos homens do garimpo. A obra, contudo, não alcançou bons resultados na época, apesar de algumas críticas favoráveis. Já "Rosinha, Minha Canoa", de 1962, marca seu primeiro sucesso. O livro "Meu Pé de Laranja Lima", de 1968, seu maior sucesso editorial, traz muito da experiência pessoal do autor para retratar o choque sofrido na infância com as bruscas mudanças da vida. Foi escrito em apenas doze dias. "Porém estava dentro de mim há anos, há vinte anos", disse ele em uma entrevista.

    O livro é muito bem escrito. Como é uma narrativa em primeira pessoa, é inevitável o envolvimento com o protagonista. E por falar nele, Zezé é um garoto incrível! Já sabia ler aos cinco anos de idade, sem que ninguém lhe tivesse ensinado. Quer dizer, há quem diga que o garoto aprendeu com o diabo, já que Zezé parece ser afilhado do tinhoso, e que é por isso que faz tantas travessuras, roubando frutas no quintal dos vizinhos, ou deixando de cabelo em pé os outros a sua volta com suas conclusões tão inusitadas sobre a vida.

    Contudo, não podemos evitar sentir pena dele também. Por conta dessas constantes travessuras, Zezé sempre acaba apanhando, chegando mesmo a ficar, em determinado ponto da história, imobilizado por alguns dias. O que nos deixa com o gosto da injustiça na boca é que, em vários momentos, o castigo que ele recebe não é merecido, como quando ele canta um trecho de uma canção cuja letra fala de nudez ou quando se recusa a ir jantar enquanto não termina seu balão. Zezé faz essas coisas sem um pingo de maldade, sem nem ao menos saber o significado das palavras que canta ou sem a intenção de desobedecer alguém. A surra que recebe, quase sempre, é de cortar o coração e, se não tivesse sido salvo em tempo por Godóia, poderia mesmo ter morrido.

    Quando fiz este resumo, ainda não tinha assistido ao filme lançado recentemente, nem à novela ou ao seriado de anos anteriores, mas acho que fica claro que o Pé de Laranja Lima, que conversa com Zezé e o apoia em todas as suas deduções e travessuras, é ninguém além dele mesmo. Isso confere ao personagem um ar meio solitário, o que torna ainda mais impossível não se afeiçoar ao pequeno. E é justamente essa afeição que permite que a gente vislumbre todo o mundo através de seus pequenos olhos.

    Um exemplo é o personagem Portuga, que a gente começa detestando e, posteriormente, amando tanto quanto Zezé. O final da narrativa é surpreendente. Triste e comovente, é verdade, mas também belo e delicado, principalmente pelas palavras finais do nosso pequeno e arteiro protagonista.

    Me encantei com o livro. É como uma laranja mesmo: meio doce, meio azedo, mas gostoso a cada gomo, e surpreendentemente breve. Concedo ao livro CINCO CANECAS, e saúdo José Mauro de Vasconcelos por toda sua sensibilidade e habilidade com a arte das palavras.

               

    E você, já leu o livro? Então deixe nos comentários as suas impressões sobre a obra. Se ainda não leu, a gente recomenda, vale muito a pena!


    Grande abraço,
     e boas leituras!

  4. O PACIFISTA, de John Boyne

    quinta-feira, 9 de maio de 2013


    TÍTULO: O Pacifista (The Absolutist)
    AUTOR: John Boyne
    ANO: 2012
    EDIÇÃO: 


















    SINOPSE: O livro narra a história de Tristan Sadler, um jovem inglês que, aos 21 anos, é um dos poucos sobreviventes aos horrores da Primeira Guerra Mundial. Tendo se alistado mais cedo, aos 17 anos, Tristan se junta a dezenas de jovens que, como ele, têm de honrar seu compromisso com seu país.

    Tristan embarca para um campo de treinamento em Aldershot, onde permanece por dois meses. Lá, ele conhece William Bancroft, que se torna seu amigo e combatente na Grande Guerra. Enquanto narra ao leitor todos os detalhes sombrios de uma guerra que não era sua, Tristan também revela os detalhes e sentimentos de sua conturbada relação com Will, desde o campo de treinamento militar, onde se conheceram, até o período de horror que vivenciaram nas trincheiras ao norte da França.

    Em Setembro de 1919, três anos depois do fim da guerra, Tristan ainda é atormentado por toda a dor e desespero vivenciados no campo de batalha. Entretanto, nada disso se compara ao peso de um terrível segredo que ele carrega sempre consigo, um segredo que Tristan espera exorcizar ao visitar Marian Bancroft, a irmã de seu mais do que amigo, Will.





    Você provavelmente vai se lembrar de John Boyne por "O Menino do Pijama Listrado""O Garoto no Convés" ou ainda "O Palácio de Inverno". Seu novo livro, "O Pacifista", chega ao Brasil pela editora Companhia das Letras dando continuidade à repercussão mundial do autor.

    A história é bem original, principalmente por seu desfecho. Entretanto, como leitor, devo dizer que fiquei um pouco cansado da narrativa em alguns pontos. Pareceu-me que o autor queria preencher mais as cenas e, por isso, estendeu algumas delas. A forma como ele faz isso é que é o grande problema. Em alguns diálogos entre Tristan e Marian, por exemplo, muitas coisas são ditas desnecessariamente, pelo menos em minha opinião. Se o autor queria dar ênfase à personalidade dos protagonistas, poderia ter escolhido uma forma melhor de exemplificar isso.

    O livro trata da questão da homossexualidade, que é expressa através do personagem Tristan. Contudo, já que o autor se dispôs a abordar essa temática, podia ter explorado melhor as cenas em que ela acontece. Quero dizer, não precisava descrever o ato sexual ou as trocas de carinho, mas quando estas acontecem, Boyne se limita a dizer que aconteceram, sem dar ênfase ao momento. Antes do primeiro contato entre Tristan e Will, todos os movimentos dos dois protagonistas indicam que eles têm interesse um pelo outro - na verdade, Tristan demonstra muito mais do que o Will. Mas quando o primeiro beijo dos dois acontece, o autor simplesmente encerra a cena, sem nem ao menos usar a palavra "beijo" ou mesmo descrever melhor os sentimentos dos personagens. 

    "Estendendo as duas mãos, segura meu rosto entre elas e me puxa para junto de si. Em meus devaneios, quando imaginava essa cena, sempre pensei que ela ocorreria de forma oposta, eu segurando-o e ele me repelindo, denunciando-me como degenerado e falso amigo. Mas agora não fico chocado nem surpreso com sua iniciativa, tampouco sinto a grande urgência que esperava sentir caso o momento chegasse. Pelo contrário, tudo o que ele faz comigo, tudo o que deixa acontecer entre nós, parece-me perfeitamente natural."

    Uma coisa que eu achei interessante é que, apesar de trabalhar com flashbacks (ora no tempo em que Tristan combateu na guerra, ora durante sua visita à Marian Bancroft), o livro não possui capítulos, e sim várias cenas dentro das partes em que está dividido.
                
    Não posso dizer que o final é previsível, muito pelo contrário. Das histórias que já li envolvendo a temática da guerra, achei que essa foi bastante original. Entretanto, achei também que foi um tanto fraca na descrição das emoções dos personagens. O segredo de Tristan, por exemplo, pelo desenrolar da narrativa, não parece atormentá-lo tanto quanto deveria, principalmente considerando os atos finais do personagem.
               
     De uma forma geral, gostei do livro. Empolguei-me com a leitura e, por isso, concedi ao livro TRÊS CANECAS, o que o classifica como “Bom”.

             



  5. LARANJA MECÂNICA, de Anthony Burgess

    terça-feira, 16 de abril de 2013

    TÍTULO: Laranja Mecânica (Clockworck Orange)
    AUTOR: Anthony Burgess
    ANO: 1962
    EDITORA: Aleph
    EDIÇÃO:


    SINOPSE:
    O livro conta a história de Alex, um jovem estudante que, aos quinze anos de idade, encontra imensurável prazer na prática da ultraviolência. Ao lado de seus druguis (ou companheiros), eles praticam todos os tipos de violência, desde vandalismo e espancamento até estupros e furtos. Entretanto, sabotado por seus próprios companheiros, Alex é capturado pela polícia e levado para uma penitenciaria juvenil, onde é submetido a um tratamento revolucionário que corrige sua conduta, modificando completamente sua forma de agir e pensar.

    IMPRESSÕES SOBRE A OBRA:
    Laranja Mecânica não é apenas um clássico, mas é também uma distopia. É uma obra que consegue, a partir de seus vários elementos criativos, dialogar sobre questões como o livrearbítrio relacionado à vida social e a ação do Estado na vida do homem. Anthony Burgess consegue, ao descrever a violência praticada por seu personagem de forma tão real, abordar de forma crítica sobre a individualidade de cada um.

    A liberdade é a questão principal abordada em toda a obra. Por ser algo inerente ao seres-humanos, a divergência dentro dessa questão está na forma como cada um de nós decide agir, ou seja, as escolhas que nos levam ao bem ou ao mal. Entretanto, o conflito ocorre quando nossas escolhas individuais passam a interferir de forma negativa no coletivo e, por causa disso, somos obrigados a rever nossos conceitos e repensá-los, de modo que a convivência sadia seja possível.

    A narrativa em primeira pessoa é um ponto forte na abordagem da temática, pois nos permite quanto leitores aproximarmo-nos mais de Alex, esse anti-herói, que nos conta sobre os acontecimentos em sua vida de forma original e interessante.

    O autor faz uso de quatro elementos fundamentais na construção de seu humilde narrador. O fato de Alex ser um adolescente não apenas reflete a preocupação de Burgess com a juventude de sua época e sua incapacidade de fazer escolhas mediadas pelo uso da razão, mas também a impulsividade, a criatividade e o desrespeito que a juventude tem pelas leis que regem o convívio social. Na verdade, o fato de Alex e seus companheiros usarem uma linguagem própria - nesse caso, o dialeto nadsat - denota a tentativa de criação de suas próprias regras para a vivência em sociedade.

    Alex também tem uma forte conexão com O Belo, expresso no livro através da música clássica. As composições de Ludwig van Bethoven, tão apreciadas pelo protagonista, representam seu lado mais humano, aparentemente ausente em seus outros companheiros. Entretanto, a agressividade presente em sua personalidade contrapõe com sua dificuldade em, a princípio, realizar escolhas positivas no âmbito da benquerença em relação ao próximo. E é justamente isso que o torna diferente, isto é, um personagem complexo, e é a partir desse aspecto que o leitor consegue entender que as escolhas feitas pelo personagem também poderiam ser feitas por nós, ao vivenciar as mesmas situações da narrativa.

    O livro de Anthony Burgess nos leva a refletir que, apesar de Liberdade ser uma virtude positiva que nos possibilita agir como desejamos, a vida em sociedade e as leis que a regem impõem condições que parecem restringir nosso livre-arbítrio. A liberdade só existe quando se é capaz de fazer escolhas, e essas escolhas estão divididas entre atos bons e maus. O próprio Alex afirma, em determinado ponto da narrativa, que “é melhor ser mau por vontade própria e fazer escolhas ruins, do que ser bom por imposição”. Então quando nosso direito à escolha é retirado, estamos deixando de ser livres, ainda que a liberdade seja exercida condicionalmente.

    Outra ferramenta muito usada por Burgess, na narrativa, são os diversos tipos de violência e a desumanização do homem. A técnica correcional Ludovico, desenvolvida pelo Estado como uma cura para a rebeldia irrefreável dos jovens da época, nada mais é do que uma lavagem cerebral que garante uma uniformidade no sentido comportamental. O paciente é submetido a um tratamento intenso, onde recebe uma dosagem especial de uma droga em particular e, então, é levado a uma câmara cinematográfica onde assiste a vídeos em alta resolução de todos os tipos de violência explícita. Aos poucos, a droga vai provocando certo desconforto e mal estar, que vai se agravando com o decorrer do tempo, de modo que o paciente passe a associar isso ao conteúdo que visualiza na tela. Depois de algumas sessões, o subconsciente passa a fazer essa associação automaticamente, não sendo mais necessário o uso da substância, e o paciente se torna incapaz de praticar ou mesmo pensar, ainda que estimulado, qualquer tipo de ato violento. Esse processo de inserção de uma nova ideologia nada mais é do que uma crítica subliminar, feita pelo autor, a todas as formas de totalitarismo que, por sua vez, não seguem outro rumo senão o intentar a uniformidade do comportamento humano, transformando o homem em um ser que não faz suas próprias escolhas livremente, de forma racional, mas que se comporta a partir de um condicionamento externo.

    A violência é, por si própria, algo que desperta medo nas pessoas. No livro, Alex invade a casa de um escritor e violenta sua esposa, ocasionando sua morte. Anos mais tarde, após ser submetido à técnica Ludovico, Alex é espancado por policiais e, por uma ironia do destino, retorna a casa desse mesmo escritor que, não o reconhecendo, acolhe-o no mais humano dos gestos. Entretanto, a prática do grupo liberalista ao qual o personagem pertence, reconhecendo Alex como o infeliz sobrevivente à técnica correcional, se mostra tão desumana quanto à própria terapia desenvolvida pelo governo, usando o jovem já perturbado como um mero objetivo útil aos fins liberalistas, e não como um indivíduo pensante e sensível que ele, enquanto ser-humano, é. 

    É nesse ponto que a obra-prima de Burgess ganha seu verdadeiro valor, isto é, quando nos permite a reflexão sobre a desumanização do homem e sua transformação em um indivíduo mecânico, e não mais um ser que possui capacidades tanto para exercer o poder e a violência, como também o afeto e o cultivo das boas virtudes, mas acima de tudo, a capacidade de fazer suas próprias escolhas e arcar com elas. A juventude, portanto, é a fase da vida onde esses valores são ainda nebulosos, ou seja, onde existem potencialidades mal direcionadas, sim, mas somente pela ausência da maturidade necessária à reflexão de nossas próprias atitudes e decisões, onde a liberdade entra como ferramenta indispensável às experiências e ao desenvolvimento do homem como ser pensante e ativo.

    Por fim, sempre fazendo uso de palavras e gírias nadsat, Anthony Burgess encerra tão grandiosa obra brindando os leitores com a seguinte reflexão, através das palavras do próprio Alex:

    “A juventude precisa acabar, ah sim. Mas a juventude é apenas quando nos comportamos tipo assim como animais. Não, não é bem tipo assim ser um animal, mas ser um daqueles brinquedos malenks que você videia sendo vendidos nas ruas, como pequenos tcheloveks feitos de lata e com uma mola dentro e uma chave de corda do lado de fora e você dá corda nele e grrr grrr grrr ele vai itiando, tipo assim andando, Ó, meus irmãos. Mas ele itia em linha reta e bate direto em coisas bang bang e não pode evitar o que está fazendo. Ser jovens é como ser uma dessas máquinas malenks.”




    Gostei muito da obra, muito bem escrita e elaborada! Por isso, concedi ao livro CINCO CANECAS, o que o classifica como “Excelente”.

            

  6. O BLOG: DESCAFEINADO, POR FAVOR.

    quinta-feira, 14 de março de 2013


    Olá,
    Seja bem-vindo ao “Descafeinado, por favor”, o blog do Thiago Augusto. A proposta aqui é resgatar, através de resenhas, vídeos e promoções, vários dos antigos clássicos da história da literatura, desde A Volta do Mundo em 80 Dias de Júlio Verne e Frankenstein de Mary Shelley - isto é, autores que se transformaram e marcaram época através de seus livros - até Moacyr Scliar com Max e os Felinos e John Boyne com O Pacifista, exemplos de autores que, num momento onde as histórias quase sempre se repetem e só mudam de título, conseguem escrever narrativas tocantes e cheias de beleza, verdadeiros diamantes de poeira aos nossos olhos.
     Nós também temos um canal no YouTube, onde a ideia é um pouco mais trabalhada. Enquanto o  blog vai abrigar as resenhas e novidades literárias, o canal vai ter sessões mais interativas, como exemplo a sessão "Literatura em Cena", onde  vamos discutir sobre livros e suas versões cinematográficas; TAGs literárias para divertir e indicar leituras; a sessão "1 MINUTO DE POESIA", onde vamos escolher trechos de livros e poesias para leitura interpretativa nos vídeos, entre outras coisas .

    Então, queremos dar as boas-vindas a todos que resolverem dar uma chance a esse espacinho, rir  com as presepadas, chorar com o sentimentalismo exagerado e/ou admirar-se com a arte de brincar com  as palavras, do jeito que só nossos autores sabem fazer. Mas claro, você pode querer não aceitar o convite, tudo bem. Tudo bem mesmo! Porque esse espacinho vai continuar existindo, assim como seu autor.

    Críticas, sugestões, elogios e, principalmente, comentários são todos bem-vindos. Assim como vocês.

    Então, cortando a fitinha vermelha, seja bem-vindo à nossa cafeteria. Peça o seu descafeinado, puxe uma leitura e descubra-se pelos olhos e palavras desse nosso amigo.
    Um abraço,